Uso de biogás pode ganhar impulso com nova regulação

O volume de biogás produzido hoje no Brasil a partir de matéria orgânica – e que pode
servir tanto para gerar energia como para substituir o gás veicular – ainda representa
menos de 2% da produção de gás natural de origem fóssil.
As regras do Novo Mercado de
Gás, porém, “são perfeitas para a atividade”, afirma Alessandro Gardemann, presidente da
Abiogás. A principal diretriz do programa, em discussão no governo, é a quebra do
monopólio da Petrobras na compra de gás natural. O plano também prevê incentivos a
investimentos em infraestrutura de distribuição. Com o novo ambiente regulatório, o país
poderá investir R$ 5 bilhões por ano na próxima década, elevando a oferta de biogás a 10
bilhões de m3, segundo a Abiogás. Conforme a entidade, há sete grandes projetos
em andamento, além de vários outros de pequeno porte, que somam R$ 700 milhões até
2021.
Cresce investimento em biogás no Brasil
Projetos em curso somam R$ 700 milhões em aportes, e novas regulamentações
estimulam avanço. A conjunção entre mudanças regulatórias e o início de uma política que
o governo espera que seja o motor do desenvolvimento do mercado de gás como fonte de
transição energética é vista com animação por setores que podem produzir um gás bem
menos poluente, o biogás. O volume de biogás, fabricado a partir de matéria orgânica e
que pode servir tanto para gerar energia ou como substituto do gás veicular, representa
ainda menos de 2% da produção de gás natural de origem fóssil.
Regras
“As regras do Novo Mercado de Gás são perfeitas para o mercado de biogás”, defendeu
Alessandro Gardemann, presidente da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), ao Valor.
Uma das diretrizes para o Novo Mercado de Gás, que está começando a ser discutido em
um comitê com membros de ministérios e agências do governo, é quebrar o monopólio da
Petrobras na compra de gás natural. O programa prevê incentivos a investimentos em
infraestrutura de distribuição de gás natural – que, segundo Gardemann, pode ser
plenamente utilizada pelo biogás. Se o novo ambiente regulatório incentivar o suficiente o
interesse sobre o potencial de biogás já existente – assentado principalmente na enorme
quantidade de resíduos do campo, sobretudo no segmento de cana e na criação de suínos
-, o país teria capacidade de ver investimentos de R$ 5 bilhões ao ano pela próxima
década nessa área, que podem elevar a oferta até 10 bilhões de metros cúbicos de biogás
ao ano, conforme estimativas da ABiogás.
Investimentos
Esses investimentos, se efetivados, podem totalizar R$ 50 bilhões até 2030 e são tratados
pela indústria como a “meta” para o setor, considerando não apenas o potencial teórico de
produção de biogás no país mas também as perspectivas reais de aportes na tecnologia. Já
há investimentos crescentes em curso, embora ainda distantes da meta. Segundo a
ABiogás, há sete grandes projetos em andamento, mais uma miríade de pequenos, que
somam R$ 700 milhões e que devem, a partir de 2021, acrescentar à capacidade de
biogás 180 milhões de metros cúbicos ao ano. Atualmente, as mais de 300 plantas de
biogás produzem cerca de 730 milhões de metros cúbicos ao ano, ante 40 bilhões de
metros cúbicos anuais de gás natural de origem fóssil. O segundo propulsor do segmento
deve ser o RenovaBio, cujas metas de descarbonização para as distribuidoras entrarão em
vigor no próximo ano e para as quais várias usinas estão se cadastrando para vender
Créditos de Descarbonização (CBios). O biometano padrão, dentro do programa, emite
96% menos em substituição a uma cesta de combustíveis fósseis (diesel, gasolina e GNV)

  • o que já credenciaria o produtor a uma alta capacidade de emissão de CBios.
    CBios
    Mas, para Gardemann, mais importante que a receita com os CBios é a lógica do
    programa, que permite a comparação entre a eficiência energética (e de suas pegadas de
    carbono) de cada produtor. Nesse jogo, a substituição do diesel por biometano, por
    exemplo, em caminhões adaptados ao combustível, que vão começar a ser lançados neste
    ano, pode se revelar um importante diferencial de eficiência energética e ambiental,
    principalmente para o setor de cana, sustentou O potencial teórico de produção de biogás,
    levando em consideração toda a matéria orgânica que pode ser aproveitada hoje e que é
    “perdida”, é muito maior que a meta. Em cálculo atualizado recentemente, a ABiogás
    estima que seria possível produzir, sem abrir um hectare de terra plantada, o equivalente
    a 45 bilhões de metros cúbicos ao ano. Essa produção injetaria nas cadeias produtivas
    uma receita de R$ 50 bilhões ao ano e, ao substituir o uso do gás de origem fóssil,
    reduziria as emissões em 130 milhões de toneladas de gás carbônico ao ano – 15% da
    meta do Brasil no âmbito do Acordo.